Entrevistas – Dr. Celso Dantas – Tratamento e Cirurgia do Cálculo Renal

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Entrevistas

Câncer de próstata: saiba mais sobre o 2º tipo de tumor que mais atinge os brasileiros

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de próstata é o segundo mais comum em homens no Brasil e deve atingir, apenas em 2016, 60 mil novos pacientes. Para falar um pouco mais sobre a doença, seus sintomas, prevenção e o tratamento adequado para cada caso, nossa equipe entrevistou o urologista e cirurgião Raul Quirino, membro da equipe médica da Clínica Urológica e Cirúrgica Dr. Celso Dantas. O especialista alerta para os fatores de risco que influenciam no desenvolvimento dos tumores de próstata e comenta os desafios para o diagnóstico precoce. Confira!

Quais são os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de próstata?

A causa do câncer de próstata ainda é desconhecida. Entretanto, existem fatores de risco que aumentam as chances de desenvolvimento da doença. Com o avançar da idade, principalmente a partir dos 60 anos, o número de casos aumenta (o que não exclui a possibilidade do aparecimento também em homens mais jovens). Outro fator de risco é a alimentação. Dietas ricas em gordura animal aumentam a biodisponibilidade de hormônios masculinos nos pacientes e, consequentemente, também elevam o risco de câncer de próstata.

Homens que possuem pai ou irmão com o tumor também devem ficar atentos: eles têm 2,8x mais chances de desenvolver a doença. Caso o parente com câncer seja o tio ou avô, o risco de desenvolver a enfermidade torna-se 6x maior. Existem, ainda, fatores de risco ambientais, como a exposição ao cádmio, encontrado, em quantidades mínimas, na fumaça do cigarro e em pilhas alcalinas. Por outro lado, a exposição ao Sol pode ser um fator de proteção, pois a síntese de Vitamina D produzida pelo organismo inibe a multiplicação das células cancerosas da próstata.

É possível prevenir a doença?

Como prevenção, podemos citar o esclarecimento da população masculina sobre a adoção de hábitos saudáveis, como praticar exercícios físicos, não fumar e ter alimentação adequada, rica em fibras, frutas, vegetais e grãos, excluindo a gordura animal. Um estudo realizado na Universidade de Harvard (EUA), concluiu que a ingestão abundante de tomates e seus derivados diminui em 35% os riscos de câncer de próstata, devido à presença de uma substância chamada licopeno.

Pesquisadores neozelandeses também relacionam a ingestão de ácidos graxos não saturados de cadeia longa, encontrados em óleos de peixe, como o salmão, com a prevenção do câncer da próstata. Há, ainda, outros estudos que apontam o consumo de vegetais do gênero brássica (brócolis, couve-flor) e a complementação da dieta com Vitamina E (800mg/dia) e Selenium (200 ng/dia) como medidas com efeito protetor contar os tumores.

Quais são os sintomas mais frequentes do câncer de próstata?

O câncer de próstata tem uma sintomatologia variável e imprevisível. Há casos em que, quando diagnosticada a doença, os tumores já estão disseminados devido à ausência de sintomas e sinais. As ocorrências de tumores localizados na glândula prostática também se mantêm assintomáticas. Além destes, há um terceiro grupo de tumores, com significativo potencial de malignidade. Nestes, geralmente, ocorrem sintomas, como ardência e dificuldade para urinar (jato urinário fraco), sangramentos, micções frequentes com baixo volume de urina, surgimento ou aumento de micções noturnas, entre outros menos comuns.

Como é feito o tratamento contra o câncer de próstata? Quais são os métodos mais modernos indicados para combater a doença? 

Após o diagnóstico do câncer de próstata, é fundamental estabelecer o estágio da doença para a sua adequada indicação terapêutica. Nos casos de tumores localizados, existem dois tratamentos admitidos: a remoção total da próstata, por meio de uma cirurgia chamada prostatectomia radical, e a radioterapia.

A prostatectomia radical pode ser convencional (aberta, mais invasiva), laparoscópica (minimamente invasiva) ou assistida roboticamente (onde o cirurgião controla remotamente os braços robóticos na mesa cirúrgica).

A radioterapia, por sua vez, pode ser realizada de forma externa ou por braquiterapia – uma técnica que consiste no implante de sementes radioativas com Iodo-125 no interior da glândula prostática ou no posicionamento temporário de cateteres contendo material radioativo no local a ser tratado.

Já para tratamento do câncer de próstata localmente avançado, ou seja, que não está mais restrito à glândula prostática, mas que não provocou metástase, o tratamento combinado com hormonioterapia, cirurgia e radioterapia apresenta melhores resultados. Neste caso, o especialista deve orientar a melhor opção ao paciente.

Por fim, para pacientes com uma doença avançada ou metastática, o tratamento consiste em supressão androgênica, ou seja, inibição ao máximo da produção do hormônio masculino circulante (testosterona), que poderá ser feita através da retirada cirúrgica do tecido produtor da testosterona nos testículos ou por métodos não cirúrgicos.

Quais os maiores desafios para o diagnóstico precoce? É comum os pacientes omitirem os sintomas da doença? 

Em minha opinião, o maior desafio para o diagnóstico precoce é a característica assintomática da doença, que pode se alojar sem qualquer sinal ou sintoma em pacientes aparentemente saudáveis. A resistência dos homens em fazer o exame do toque retal – por inúmeras razões, inclusive de ordem cultural – também é um obstáculo para o diagnóstico precoce da doença.

Os pacientes não omitem claramente os sintomas, o que existe é uma grande barreira, baseada na ausência de conhecimento sólido acerca da aparição da enfermidade. Os fatores culturais vigentes em nossa sociedade exigem um modelo de masculinidade que tende a excluir qualquer sentido de fraqueza, mascarando, assim, a manifestação inicial da doença.

Recentemente, o debate sobre os exames de rotina para detectar o câncer de próstata gerou discordâncias entre a Sociedade Brasileira de Urologia e o Inca e o Ministério da Saúde. A SBU afirma que exames de rotina podem salvar vidas, enquanto o Inca e o Ministério da Saúde dizem que, para homens saudáveis, há um risco de que os exames tragam mais danos do que benefícios. Qual a sua opinião sobre o assunto?

O rastreamento do câncer da próstata pode trazer benefícios e riscos que devem ser analisados antes de serem incorporados aos programas de saúde pública. O beneficio é a redução da mortalidade pela doença e os riscos são os resultados falsos, infecções, sangramentos resultantes de biópsias desnecessárias, a ansiedade associada ao possível diagnóstico e os danos resultantes do possível sobretratamento em cânceres que nunca iriam evoluir clinicamente.

Nos Estados Unidos, em 2012, a U.S Preventive Service Task Force, numa revisão de recomendações, publicou um posicionamento contrário à realização rotineira do PSA (antígeno prostático específico) para o rastreamento do câncer da próstata. Esta recomendação é direcionada à população geral masculina dos EUA, mas existem estudos em outros países com a mesma orientação.

Entretanto, a American Cancer Society, orienta que o rastreamento seja oferecido a homens com risco padrão, a partir dos 50 anos, com expectativa de vida maior que dez anos, e a homens com fatores de alto risco, a partir dos 45 anos. Os benefícios e riscos do exame serão apresentados ao paciente que, em conjunto com o especialista, decidirá pela realização ou não do PSA, assim como de outros exames afeitos à especialidade que se fizerem necessários.